07 junho 2010

Reflexão da 8ª Semana

8ª de 31/05 à 04/06/2010

Esta oitava semana foi muito difícil de ser trabalhada, embora fosse a menor em termos de dias de aulas do que as outras.

Segunda - feira, dia 31/05, faleceu a minha avó paterna, por volta das 6:30 da manhã. Passei o dia, com minha família, organizando tudo e fui ao seu velório. No entanto, precisei comparecer à escola no turno da noite para atender minha turma de estágio ( bem como na terça-feira também, pois no dia 1º /06, foi realizado o enterro). Também trabalhei normal na terça à noite. Foi bem complicado desenvolver o que planejei, pois estava em uma situação um tanto incômoda e extremamente sensível. No entanto, procurei cumprir com minha obrigação o mais profissional possível.Não deixei de comentar com meus alunos o acontecimento de meu dia. Eles fazem parte da minha caminhada dentro daquela escola.

Mas dando início ao trabalho programado, apresentei a charge selecionada para que todos fizessem sua apreciação. Alguns acharam muito engraçado, que figuras tão diferentes fossem tão presentes em nosso dia a dia. Um dos alunos, o Vilmar, que é um cara bem vivido e tem uma enorme consiência crítica, embora seja um tanto despreocupado, aparentemente, colocou que as duas figuras da charge apresentavam a burguesia eo trabalho quase que escravo. Disse que embora não trabalhasse, fosse aposentado por "incapacidade mental", conseguia entender muito bem quando os pobres sacrificavam suas vidas em detrenimento do ricos poderem aproveitar. Como em todas as minhas aulas, o assunto deu pano pra manga, e como... As produções das charges foram feitas em grupos e colocadas no mural da sala. Aproveitei o ensejo para pedir que na terça-feira trouxessem o maior número de objetos que pudessem trazer, pois faríamos outras atividades.

Na terça- feira, a atividade seguiu seu curso normal, ou seja, conforme o planejado. Achei interessante que muitos deles não trouxeram consigo somente objetos que usam no seu dia, para o trabalho, pois muitos vem direto para escola. Alguns me colocaram que levaram de casa para o trabalho os objetos que usariam na aula à noite. O trabalho foi bem produtivo e de bastante curiosidade por parte deles. Surgiu muita discussão em torno, principalmente, do produtor rural, pois um dos alunos é padeiro e levou um pacote de farinha. Daí veio a questão de que percurso essa farinha fazia até chegar a padaria em que ele trabalhava. Surgiram coisas impressionantes, como: que tipo de instrumento de trabalho o produtor usava para plantar, colher, secar, transportar... O que provavelmente era pago ao produtor e com que preço esse produto chegava ao seu destino final. Com toda essa discussão em torno do assunto, trabalhamos problemas matemáticos envolvendo os números apresentados pelos alunos, usando as quatro operações.

Apesar dessa não ter sido uma semana muito fácil para mim, consegui entender muito mais do que poderia ter entendido durante uma semana normal de aula. Quando cheguei em casa na terça, parei para pensar no que havia transcorrido naquela aula. Na importância que esse tipo de assunto tem para eles, que sequer haviam parado para pensar nisso, muito menos eu mesma.

Será que quando não nos damos conta das coisas que parecem tão obvias, não estamos em uma espécie de cegueira, que só parece obvio quando paramos para ouvir quando os outros nos mostram? Pensando nisso fui procurar um texto que havia lido, da própria Denise Comelato, nesse caso, minha orientadora, mas que no entanrto me trouxe uma referência significativa durante o estudo da interdisciplina de EJA. Nesta bibliografia complementar ela, Denise, coloca algo sobre a cegueira coletiva, então parei para refletir sobre um trecho , que diz:

"Entende-se, aqui, que o conhecimento é construção de modelos explicativos e lógicos. Resultado da busca de se aproximar do mundo objetivo, que nunca é totalmente apreensível. Elaborado a partir de uma seleção do “real”, de uma percepção ou olhar guiado por concepções teóricas, visões de mundo, valores e pelas estruturas da inteligência, o conhecimento e suas representações (conclui-se) não são neutros. Faz parte dos seus resultados tanto o sujeito como o objeto e a relação estabelecida entre eles, o que depende enormemente do tipo de inserção social e cultural dos sujeitos no mundo.

O conhecimento escolar trabalha, em sua maior parte, com conceitos e representações... E o que isso tem a ver com a Educação de Jovens e Adultos? Esboços, rabiscos, rasuras, grafites, sinais, índices, ícones, imagens gráficas, desenhos, números, letras, gráficos, esquemas, mapas, etc., representações gráficas por meio das quais também olhamos e somos olhados, compreendemos e constituímos o mundo e a nós mesmos.

Parte extraída da Bibliografia Complementar de Educação de Jovens e Adultos, Denise Cormelato - ESCRITA, REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS E COGNIÇÃO. Cabe salientar que esta bibliografia foi baseada em tantas outras leituras feitas pela autora de outros pensadores, dentre eles: Paulo Freire, Emília Ferreiro, Ana Teberoski, Marta Kohl...

Também Paulo Freire faz menção a conscientização quando diz:

"...É também consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Exige que os homens criem sua existência com um material que a vida lhes oferece..."

Sinceramente, acho que muita coisa passou a fazer outro sentido dentro de mim, a partir do momento que resolvi achar tempo para realizar as leituras necessárias para melhorar minha prática pedagógica, baseada na teoria, antes tão esquecida por mim.

Um comentário:

mauranunes.com disse...

Que bacana Ana Cláudia! É um processo de crescimento importante pelo qual estás passando. Fazes ligações com o que percebes em tua prática docente, com o que experencias junto aos teus alunos e ligação com tuas leituras. Isso tudo te ajuda a contextualizar tuas experiências. Ótimo! Bjs, Maura - tutora do SI