20 setembro 2009


EGOÍSMO


Lendo o texto solicitado na interdisciplina de Linguagem e Educação, lembrei de algumas imagens que me foram apresentadas ao longo dos anos ( mesma imagem apresentada na inter de Didática), dentre elas uma criança com a cabeça cheia de compartimentos, em cada um deles assuntos diferentes: matemática, português, história, geografia, ou outras disciplinas. Mostrando o quanto ainda nos preocupamos com a mudança de pensamento que o povo possa apresentar com a possibilidade de entender as coisas, como acontecia nos meados do período da industrialização, onde os homens de uma forma geral passaram a ser orientados a agir de forma mecanizada, sem poderem sair daquele circulo de produção, impedidos de levantarem suas cabeças e verem o que acontecia a sua volta. Penso que por esse motivo a escola ainda está voltada para si mesma, de uma forma muito egoísta, incapaz de se preparar para outro tipo de letramento que não seja simplesmente o escolar. Ainda estamos de alguma forma, vivendo a educação tradicional ou bancária, onde os alunos são meros sujeitos esperando que o conhecimento lhes seja colocado na cabeça, como se nelas tivessem caixinhas para isso. A escola preocupa-se, principalmente, em passar ao aluno o que é determinado através de conceitos preestabelecidos. Nossos alunos são sujeitos capazes de nos mostrar coisas que sequer conhecemos, pois pertencem a tribos de diversas naturezas, como por exemplo, igrejas, clubes, família e grupo de amigos. Não podemos esquecer que nossos alunos não nasceram somente no momento em que foram para a escola, mas que tiveram uma vida significativa anterior. Podemos observar esta vida também e, principalmente, com nossos alunos jovens, adultos e trabalhadores da EJA. Quando retornam para o espaço escolar, nos ensinam muitas coisas, muitas histórias de vida que nunca imaginamos em conhecer. Na realidade, não estamos preparados ainda para aprendermos com eles, pois fomos ensinados que estamos na escola para ensinar, pois somos considerados e nos achamos os mestres, e não para aprender.

18 setembro 2009

Sonhos roubados

O que me faz escrever hoje é algo que está me deixando inquieta desde ontem quando recebi um panfleto com o seguinte texto: O COMTRU ( Conselho municipal de Transportes Urbano de Alvorada) aprovou e a secretaria de Segurança Urbana (SMSU) está implantando novas regulamentações no transporte de passageiros da cidade, com o intuito de melhorar o tranporte.
Com essa decisão a partir do dia 1º de outubro não existirá mais a linha de ônibus A 70 e os moradores da Região do Sítio dos Açudes deverão pagar passagem R$ 2,30) e utilizar outro ônibus para poderem entrar na cidade.

Esse bairro localizado praticamente fora da cidade, abriga pessoas de situação de miséria total, e foram instalados lá por serem antigos moradores dos arredores do Arroio Feijó, local de grandes tragédias com enchentes e criminalidade. Com a distância em que foram colocados e com a situação financeira totalmente em situação de miséria, fez com que na administração anterior, da fosse implantada essa linha de ônibus( totalmente gratis) , onde os moradores podem ir a um ponto da cidade onde tem um paradão e poderem ter acesso a outras linhas de ônibus. Mas o que mais me deixa preocupada é o fato de ser professora da única escola que oferece Eja para os jovens e trabalhadores daquele local. ( Depois que descem do ônibus citado, os alunos caminham ainda cerca de 1km até a escola, e não tem como pagar a passagem cara desse jeito. Para irem e voltarem da escola o custo é de R$ 4,60 por dia). Como pessoa que mal tem o que comer poderão gastar isso? Com isso muitos de nossos alunos perderão a oportunidade de continuarem seus estudos e, tentarem dar a suas famílias uma perspectiva de vida melhor das que tiveram. Essa foi mais uma noite sem dormir, pensando no que leva as autoridades municipais a tomarem uma decisão dessas. Infelizmente, nada podemos fazer para reverter essa situação, irreversível, pois sequer fomos consultados para averiguação de alunos moradores do local. Saio todas as noites de casa, deixo minha família, para tentar ajudar com minha profissão, e orientar essas pessoas a terem um futuro melhor e, o descaso da administração os fará desistir do sonho de poderem se manter na escola. Faço esse desabafo com o intuito de poder colocar essa situação aos colegas de Alvorada, que nem sabem o que está acontecendo e para alertá-los de que naquele local moram pessoas que precisam somente da oportunidade de serem cidadãos dignos dentro dessa cidade. Sei que a visão geral da cidade é que lá só moram marginais, mas isso não é verdade, pois eu lido diariamente com essas pessoas e sei dos sonhos que possuem , das oprtunidades que procuram e do que lhes está sendo tirado. Ontem ao ouvir o Hino Riograndense na escola, não pude deixar de me emocionar pensando no quanto somos fortes se continuarmos unidos e lutando pelos nosso direitos, ou ao pouvir o Hino de Alvorada que fala de seu povo trabalhador e sonhador. Não basta, nós professores, vermos a importância do SEJA na vida de nossos alunos, se o próprio poder público, quem deveria respeitá-los, senão como pessoas dignas, mas como eleitores que foram iludidos com promessas de manterem aquela linha. Pergunto onde estão os vereadores, que vi andando naquele ônibus, indo à noite na minha escola pedindo votos, e que não se manifestam em relação ao problema apresentado. Estão acabando com dezenas de sonhos recomeçados com o SEJA. Afinal, a EJA não tem como função reparar os erros e injustiças anteriores e compensar o tempo perdido pelas injustiças? Essa reparação não cabe ao poder público? Que poder público é esse?

16 setembro 2009

REFERENCIAL

Uma professora fica com a mesma turma durante dois anos . Nessa turma, desde a primeira aula um menino chama sua atenção mais do que o normal, pois é uma criança agressiva, rebelde , brigona e nunca fala com ela com delicadeza. Porém esta criança tem uma mãe que está sempre presente, conversando com a professora, pedindo informações do filho, querendo ajudar no que for preciso. Aos poucos mãe e professora formam uma parceria para tentar resolver os problemas apresentados pela criança. No entanto, a professora não consegue aproximar-se da criança como se aproxima das outras. A mãe, tenta sempre ajudar o filho seguindo todos os conselhos dados pela professora e pela orientação da escola. Um dia, a professora precisa ausentar-se da sala, pois havia sido chamada na direção e logo tem sua atenção voltada novamente para sua sala, pois estabelecera-se uma gritaria nela. Quando retorna para ver o que ouve , o menino havia pulado a janela, pois pensara que havia ficado preso. Uma janela tão estreita que era quase impossível acreditar que poderia ter passado por ali, mas passara. Esse menino aprendera a ler muito mais rapidamente do que conseguira se apropriar da escrita, aliás nunca gostara de escrever ( mas sabia escrever), só lia, lia e lia. Ao final do ano fez a testagem e não escrevera uma palavra, no entanto interpretava textos e respondia oralmente tudo que lhe era proposto e, avançou para o próximo ano. Embora a mãe tenha sido avisada, no ano seguinte as mesmas dificuldades continuaram. A mãe continuava presente, no entanto, confessara a professora que estava se sentindo impotente em relação ao filho, pois além dos "problemas" apresentados por ele, também passava por dificuldades no casamento, financeiras e havia descoberto que estava com nódulos no útero. A mãe continuava indo, diariamente, a levar o filho na escola. O menino continuava apresentando o mesmo comportamento. Certo dia, recusou-se a conversar quando a professora lhe chamou e ameaçou jogar algo nela, o que foi passado à sua mãe, que conversara com ele, mas pouco adiantou. Ele lia, lia muito, porém continuava negando-se a escrever. Foi tentado de tudo. Ele faltou dois dias na escola, quando retornou foi questionado pela professora, e respondeu que a polícia havia ido a sua casa com o "homem da justiça" e os despejaram porque não tinham dinheiro para pagar o aluguel. Diz que chorou muito abraçado à mãe e ao irmão, pois o pai não estava em casa, mas no bar bebendo. Um vizinho emprestou o galpão dos fundos de sua casa para eles. Após quinze dias o menino faltou novamente a aula e a professora perguntou aos colegas por ele, ao que reponderam: a mãe dele morreu ontem. A professora perdeu o seu chão e desde então se pergunta se não poderia ter dado notícias melhores a mãe deste menino, que agora perdera todas as suas referencias de morada, de lar e de mãe. Parabéns a esta mãe que lutou até o último dia por seu filho "problemático e rebelde". Algum motivo ele tinha para sentir isso. O que será deste menino? Quem o defenderá das maldades do mundo? Quem o ensinará a ver o mundo de uma forma diferente da que vê hoje? Por que morrem mães com filhos pequenos? Tenho certeza que esta professora mudou sua forma de pensar em relação a muitas coisa desde que isso aconteceu e que certamente, a escrita não fará tanta diferença para ela apartir desta situação.

04 setembro 2009


O APAIXONADO




Na última quarta-feira tive a portunidade de experimentar duas sensações completamente diferentes, uma me agradou muito e, certamente não fará muita diferença para mais ningúem, além de mim. A outra, não me agradou nada e, certamente poderá causar algum desconforto,tanto para mim, quanto para outras pessoas. No entanto, vou me dar a luxo de colocar aqui somente a que me deixou mais apaixonada pelo que faço. Sou Educadora. Depois de um dia muito cansativo, de me preocupar com meu pai, com meu filho, com meu marido e principalmete, com meus alunos, fui para uma aula presencial, que seria mais uma preocupaão para mim, pois com certeza sairia de lá sem entender absolutamente nada. Foi então que dei de cara com um "velho, um senhor,um professor, um mestre, um apaixonado". Apaixonado Helvécio. Que nome estranho! Que figura estranha! Que velho louco!Que louco apaixonado!Me senti a aluna mais privilegiada do mundo, pois estava diante de um grande apaixonado pelo que faz, e que passa essa paixão aos seus alunos. Diante "daquilo", daquele ser estranho, parei para pensar o porque eu não tinha aquele T todo. Como pode este Helvécio dar aula há tanto tempo e ainda ter tanta ilusão com o que faz? E, como posso eu, com a metade do tempo de serviço dele, já ter perdido completamente as esperanças em relação à educação? Não seria eu extremamente egoísta ao ponto de achar que as esperanças acabaram? Que não tem mais solução? Foi então que percebi: a esperança e a ilusão estão dentro de mim e, que só eu posso resgatar este sonho e este T. Ao ver o Helvécio lembrei de um colega muito querido, muito amigo que esteve comigo durante muitos anos de minha vida, desde sua vinda para cá. Infelizmente, ele perdeu esta paixão e este amor pela educação. Jogou todos os sonhos fora, na lata do lixo. Queria eu, poder hoje lhe dizer "Amigo, ainda existe eperança na educação e no sonho, não desista.Eu vi isto nos olhos daquele velho.Vi nos olhos dele o mesmo que via nos teus." Vi o mesmo que vi em ti quando te trouxe comigo para o Seja e, infelizmente, lá vi tu perderes.


Vi o APAIXONADO!


Quero ser ele e continuar apaixonada.


Quero passar isto aos meus alunos.


Quero voltar a me apaixonar.


Quero ser o velho APAIXONADO.