
20 setembro 2009

18 setembro 2009
Sonhos roubados
Com essa decisão a partir do dia 1º de outubro não existirá mais a linha de ônibus A 70 e os moradores da Região do Sítio dos Açudes deverão pagar passagem R$ 2,30) e utilizar outro ônibus para poderem entrar na cidade.
Esse bairro localizado praticamente fora da cidade, abriga pessoas de situação de miséria total, e foram instalados lá por serem antigos moradores dos arredores do Arroio Feijó, local de grandes tragédias com enchentes e criminalidade. Com a distância em que foram colocados e com a situação financeira totalmente em situação de miséria, fez com que na administração anterior, da fosse implantada essa linha de ônibus( totalmente gratis) , onde os moradores podem ir a um ponto da cidade onde tem um paradão e poderem ter acesso a outras linhas de ônibus. Mas o que mais me deixa preocupada é o fato de ser professora da única escola que oferece Eja para os jovens e trabalhadores daquele local. ( Depois que descem do ônibus citado, os alunos caminham ainda cerca de 1km até a escola, e não tem como pagar a passagem cara desse jeito. Para irem e voltarem da escola o custo é de R$ 4,60 por dia). Como pessoa que mal tem o que comer poderão gastar isso? Com isso muitos de nossos alunos perderão a oportunidade de continuarem seus estudos e, tentarem dar a suas famílias uma perspectiva de vida melhor das que tiveram. Essa foi mais uma noite sem dormir, pensando no que leva as autoridades municipais a tomarem uma decisão dessas. Infelizmente, nada podemos fazer para reverter essa situação, irreversível, pois sequer fomos consultados para averiguação de alunos moradores do local. Saio todas as noites de casa, deixo minha família, para tentar ajudar com minha profissão, e orientar essas pessoas a terem um futuro melhor e, o descaso da administração os fará desistir do sonho de poderem se manter na escola. Faço esse desabafo com o intuito de poder colocar essa situação aos colegas de Alvorada, que nem sabem o que está acontecendo e para alertá-los de que naquele local moram pessoas que precisam somente da oportunidade de serem cidadãos dignos dentro dessa cidade. Sei que a visão geral da cidade é que lá só moram marginais, mas isso não é verdade, pois eu lido diariamente com essas pessoas e sei dos sonhos que possuem , das oprtunidades que procuram e do que lhes está sendo tirado. Ontem ao ouvir o Hino Riograndense na escola, não pude deixar de me emocionar pensando no quanto somos fortes se continuarmos unidos e lutando pelos nosso direitos, ou ao pouvir o Hino de Alvorada que fala de seu povo trabalhador e sonhador. Não basta, nós professores, vermos a importância do SEJA na vida de nossos alunos, se o próprio poder público, quem deveria respeitá-los, senão como pessoas dignas, mas como eleitores que foram iludidos com promessas de manterem aquela linha. Pergunto onde estão os vereadores, que vi andando naquele ônibus, indo à noite na minha escola pedindo votos, e que não se manifestam em relação ao problema apresentado. Estão acabando com dezenas de sonhos recomeçados com o SEJA. Afinal, a EJA não tem como função reparar os erros e injustiças anteriores e compensar o tempo perdido pelas injustiças? Essa reparação não cabe ao poder público? Que poder público é esse?
16 setembro 2009
REFERENCIAL
Uma professora fica com a mesma turma durante dois anos . Nessa turma, desde a primeira aula um menino chama sua atenção mais do que o normal, pois é uma criança agressiva, rebelde , brigona e nunca fala com ela com delicadeza. Porém esta criança tem uma mãe que está sempre presente, conversando com a professora, pedindo informações do filho, querendo ajudar no que for preciso. Aos poucos mãe e professora formam uma parceria para tentar resolver os problemas apresentados pela criança. No entanto, a professora não consegue aproximar-se da criança como se aproxima das outras. A mãe, tenta sempre ajudar o filho seguindo todos os conselhos dados pela professora e pela orientação da escola. Um dia, a professora precisa ausentar-se da sala, pois havia sido chamada na direção e logo tem sua atenção voltada novamente para sua sala, pois estabelecera-se uma gritaria nela. Quando retorna para ver o que ouve , o menino havia pulado a janela, pois pensara que havia ficado preso. Uma janela tão estreita que era quase impossível acreditar que poderia ter passado por ali, mas passara. Esse menino aprendera a ler muito mais rapidamente do que conseguira se apropriar da escrita, aliás nunca gostara de escrever ( mas sabia escrever), só lia, lia e lia. Ao final do ano fez a testagem e não escrevera uma palavra, no entanto interpretava textos e respondia oralmente tudo que lhe era proposto e, avançou para o próximo ano. Embora a mãe tenha sido avisada, no ano seguinte as mesmas dificuldades continuaram. A mãe continuava presente, no entanto, confessara a professora que estava se sentindo impotente em relação ao filho, pois além dos "problemas" apresentados por ele, também passava por dificuldades no casamento, financeiras e havia descoberto que estava com nódulos no útero. A mãe continuava indo, diariamente, a levar o filho na escola. O menino continuava apresentando o mesmo comportamento. Certo dia, recusou-se a conversar quando a professora lhe chamou e ameaçou jogar algo nela, o que foi passado à sua mãe, que conversara com ele, mas pouco adiantou. Ele lia, lia muito, porém continuava negando-se a escrever. Foi tentado de tudo. Ele faltou dois dias na escola, quando retornou foi questionado pela professora, e respondeu que a polícia havia ido a sua casa com o "homem da justiça" e os despejaram porque não tinham dinheiro para pagar o aluguel. Diz que chorou muito abraçado à mãe e ao irmão, pois o pai não estava em casa, mas no bar bebendo. Um vizinho emprestou o galpão dos fundos de sua casa para eles. Após quinze dias o menino faltou novamente a aula e a professora perguntou aos colegas por ele, ao que reponderam: a mãe dele morreu ontem. A professora perdeu o seu chão e desde então se pergunta se não poderia ter dado notícias melhores a mãe deste menino, que agora perdera todas as suas referencias de morada, de lar e de mãe. Parabéns a esta mãe que lutou até o último dia por seu filho "problemático e rebelde". Algum motivo ele tinha para sentir isso. O que será deste menino? Quem o defenderá das maldades do mundo? Quem o ensinará a ver o mundo de uma forma diferente da que vê hoje? Por que morrem mães com filhos pequenos? Tenho certeza que esta professora mudou sua forma de pensar em relação a muitas coisa desde que isso aconteceu e que certamente, a escrita não fará tanta diferença para ela apartir desta situação.